sábado, 18 de dezembro de 2010

Querido pai natal,


Aqui estou eu mais uma vez para te fazer o meu pedido de natal. Eu não sei muito bem o que te pedir, por isso, tive que vir à procura e aqui estou eu sentado no shopping num daqueles bancos que estão espalhados pelos corredores. Não precisei de muito tempo para começar a ver pessoas carregadas com sacos cheios de embrulhos e crianças a apontarem aos pais constantemente as montras. Estão todos preocupados em comprarem alguma coisa para oferecer neste natal aos que lhes são mais próximos ou àqueles de quem não nos podemos esquecer. Fica sempre bem, não é pai natal? Todos estão preocupados em arranjar qualquer coisinha, bonita de preferência, para depois no natal poderem retribuir uns aos outros. Estive a assistir a este cenário, até que, decidi ir a uma loja ver o que se passava lá dentro. A loja estava cheia; as prateleiras convidavam a pegar nas coisas, a música ambiente era de natal, nos preços havia letreiros que diziam: “o mais barato”; uma loja perfeita. Enquanto vagueava pelos corredores da loja, dei comigo a ouvir conversas entre as pessoas que só falavam nas prendas que já tinham comprado e nas prendas que ainda tinham que comprar. No entanto, houve algo que me chamou a atenção no meio daquela confusão de toda de prendas para um lado e para outro. Sabes o que foi pai natal? Foi um adolescente, não teria muito mais que catorze ou quinze anos, que virado para a sua mãe dizia: “Isso não, eu não me identifico, ele também não vai gostar”. Ele repetia constantemente até que a mãe já irritada com ele pergunta-lhe: “Mas afinal, que prenda tu lhe queres dar?” Ele olhou para a mãe com os olhos cheios de água e a soluçar: “Não lhe quero dar nenhuma prenda. Quero-lhe dar um presente…” Devias ter visto a minha cara quando ouvi aquilo. Todos os meus músculos faciais moveram-se de forma a formarem um sorriso rasgado; os meus olhos ficaram também cheios de água de tanta felicidade que tinha dentro de mim; vi-me obrigado a sair da loja. Aquele rapaz fez luz dentro de mim; fez-me compreender o que eu queria para este natal. Ele disse-me qual devia ser o meu regalo para comigo mesmo.

Desculpa pai natal mas já não preciso de ti. Eu descobri qual é o regalo que quero e como o conseguir… Nas palavras daquele adolescente eu descobri a diferença entre dar uma prenda e um presente. Onde é que eu tinha a cabeça para ainda não ter percebido que o oferecer uma prenda ou um presente, parte sempre da pessoa que dá e nunca da pessoa que recebe… Sempre que regalo alguém com uma prenda, fico preso a uma lógica egoísta: “Eu dei, agora tenho que ser retribuído”. Fico preso a esta lógica e caso não seja retribuído, fico muito provavelmente chateado e desapontado. Quando regalo alguém com um presente, faço-me presente junto dele. Pouco me importa se vou ser retribuído ou não; o que importa é que eu me quis fazer presente junto daquele a quem eu acabo de regalar. Eis aqui o grande segredo que muda tudo quando oferecemos a alguém uma prenda ou um presente. Eu não quero ficar preso a esta lógica do “toma lá” e fico à espera do “dá cá”… Quero sim começar a viver do fazer-me presente.

Neste natal, pai natal, já não preciso de ti. Neste natal em que tudo me entra pelos olhos e me chama a ser igual a todos os outros, eu quero ser diferente; eu quero ser como aquele adolescente que se quer fazer presente; quero que o meu natal seja diferente. Quero fazer-me presente neste natal, junto de todos os que amo. Quero neste natal, oferecer como presente a minha vida aos que me rodeiam. Como? Ainda não sei.

Afinal até sei. Tudo o que preciso está dentro de mim: as palavras, os gestos, as expressões, as letras; tenho como me fazer presente; tenho como me fazer presente e com eles viver o mistério do natal. Quero que as pessoas sintam a minha presença neste natal. Não só neste natal. Sempre. Quero com o meu presente, tornar-me presente sempre; quero que sempre que recordem o meu presente me sintam lá, junto deles.

Este é o meu desejo para este natal. Este é o meu próprio presente de natal. Não sei se será o desejo de mais alguém. Talvez seja… É de certeza pelo menos do meu “amigo” do shopping.

Obrigado “amigo”. Sem saberes o meu nome e sem mesmo tu o saberes, deste-me um presente antecipado neste natal. Foste o meu pai natal.

Pai natal, desculpa eu estar a dizer-te estas coisas todas mas quem sabe se podias distribuir esta carta pelas casas onde vais este natal… Uma coisa eu sei; o natal de muitas casas podia ser mais rico, a felicidade podia ser maior. Tenho a certeza que em muitas casas apesar de a árvore ter menos prendas, a casa estaria muito mais cheia, estaria com muitas mais presenças.

Entendes-me, não entendes pai natal? Eu já não preciso de ti pai natal mas há ainda quem precise de encontrar um pai natal na sua vida.

Bom Natal.

Já me esquecia de dizer uma coisa: não passes cá por casa; vai a outra casa que precise mais de ti. Agasalha-te bem. À noite faz frio e tu já não és um jovem.

Bom Natal outra vez.

Luís Sousa

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