sábado, 9 de janeiro de 2010

Falar ao mundo...

Estou a dar um passeio e no caminho que venho a percorrer tenho dado conta que as pessoas não têm um sorriso na cara, andam de cabeça voltada para o chão e com um olhar constante de desconfiança. Começo a dar conta que o único que está diferente sou eu, sou o único que tenho um sorriso na cara, sou o único que olho em frente, sou o único que cumprimenta quem passa... Será que estou doente?
Ao longo de alguns dias fui para a rua e tentei perceber o que leva as pessoas a levarem a sua vida assim de uma forma tão mecânica e tão robótica. Todos os dias as mesmas pessoas nos mesmos locais, às mesmas horas, com o mesmo rosto… Parece que toda a sociedade foi hipnotizada para desempenhar uma função, mesmo que essa não lhe traga a felicidade. O receio, o medo de olhar o mundo de frente e mudar a sua vida, fazem com que fiquem sempre no mesmo ritual de vida, sem nada de novo, deixando que a vida as viva, esquecendo-se que tem que ser exactamente ao contrario: nós é que temos que viver a vida. Vendo isto sinto vontade de chegar ao ponto mais alto do mundo e gritar para que todas as pessoas me possam ouvir que assim não vale a pena viver, viver por viver não vale a pena, é inútil. Chega de andarmos a brincar com o nosso tempo, chega de nos andarmos a enganar a nós próprios, chega de andarmos a dizer “cá se vai andando”, isto é uma atitude de alguém que já desistiu de Viver e passou só a sobreviver, só a existir.
Tenho vontade de dizer a toda a gente que Cristo veio ao mundo não para ser um milagreiro mas sim para nos mostrar o verdadeiro caminho da felicidade, o verdadeiro caminho para uma vida: “Eu sou o caminho a verdade e a vida” já Ele nos dizia. Porque duvidamos Dele? Será que não queremos ser felizes? Ou será que estamos acomodados demais para começarmos a ser felizes? Todos sem excepção queremos ser felizes; contudo, nem todos temos a coragem de olhar o mundo de frente, de levantar a cabeça e questionar a sua vida, colocar a questão se sou realmente feliz ou se apenas tenho momentos de felicidade. Não nos podemos esquecer que a verdadeira felicidade vem de dentro de nós, vem da forma como vivemos, vem do ideal de vida que projectamos para nós. Quantas vezes deixámos que os outros projectem a nossa vida? Vezes de mais... Cristo não quer que sejamos “paus mandados”, quer sim que sejamos muito felizes e que tenhamos uma vida em abundância, uma vida voltada para a fonte de vida que é Ele. Desde pequeninos fomos habituados a não pôr em questão o que se passa na nossa vida. Desde pequenos fomos habituados a rituais que não entendemos mas que no entanto não questionamos. Como cristão que me sinto, tenho como dever questionar o que ando a fazer na igreja e avaliar até que ponto sou no mundo que me rodeia um espelho de Cristo. Quantos de nós não vamos às celebrações por um simples ir, para cumprir “calendário”? Na sociedade em que vivemos somos os primeiros a apontar a dedo a quem diz uma coisa e depois faz outra, somos os primeiros a nos sentirmos ofendidos quando nos mentem. Por favor, digam-me como é que é possível que quando diz respeito à religião nós sejamos os primeiros a ir à missa e lá dizemos que acreditamos em Jesus Cristo, acreditamos na igreja e ao fim ao cabo, depois de sairmos de lá, somos como aqueles que não põem lá os pés, como é possível que sejamos capazes de mentir a nós próprios ao dizermos que queremos que Cristo viva dentro de nós e depois durante a semana ele é deixado em casa até ao próximo domingo. Chega de fazermos da nossa vivência cristã um simples rito na vida, vamos começar a optar por fazer dela um ritmo de vida. Vamos optar por ser Cristãos Vivos que se sentem chamados a anunciar Cristo aos que nos rodeiam; ser anunciador de Cristo não é só para os padres e freiras, é um dever de todos os baptizados. Através do baptismo recebemos o Espírito de Deus o que nos compromete a levarmos Cristo dentro de nós, não de uma forma escondida mas sim de uma forma bem visível. Que bom seria se fossemos capazes de falar ao mundo do Deus Amor que nos dá a vida a cada minuto que passa. Que bom seria se perdêssemos o medo de falar, o medo de assumir que somos cristãos. Ser um “cristão banal” é muito simples pois apenas temos que ir às missas. Cristãos destes não são nada, apenas se andam a enganar; agora, ser um cristão consciente da sua missão isso é muito difícil pois implica uma atitude de vida, implica deixar morrer o seu “eu” para que Cristo viva em si, e não precisamos de ser muito inteligentes para perceber o que daí advém. Exactamente a felicidade, uma felicidade que vem de dentro de nós, não precisamos de a ir buscar ao café, às discotecas, etc. Uma felicidade que nos enche de tal forma que não pode ficar só para nós, tem que sair cá
para fora, tem que ser forma de anúncio de Cristo que vive em mim. Que pena que eu tenho de não poder falar ao mundo e lhes dizer isto... Tenho a certeza que o mundo seria bem melhor. Na rua começaríamos a ver mais sorrisos, mais cabeças levantadas, mais VIDA.

Luís Sousa