sábado, 6 de fevereiro de 2010

Obrigado... (aos Pais)

Obrigado porque tiveram nas vossas vidas um lugar para a minha vida, renunciando a tantas coisas boas que poderiam ter saboreado. Porque – mais do que isso – fizeram das vossas vidas um lugar para a minha. E de muitas maneiras morreram para que eu pudesse viver. Porque não eram corajosos, mas tiveram a coragem de embarcar numa aventura que sabiam não ter retorno. Porque não fizeram as contas para avaliar se a minha chegada era conveniente: abriram simplesmente os braços quando eu vim. Porque não só me aceitaram como era, como estavam dispostos a aceitar-me fosse eu como fosse. Obrigado porque não vos deixei dormir e estavam sorridentes no dia seguinte. Porque foram muitas vezes trabalhar com manchas de leite na vossa roupa. Porque me acalmaram dizendo “não chores, filho, nós estamos aqui!”, e estar no vosso colo era tão seguro como dormir na palma da mão de Deus. Obrigado porque é pensando em vocês que posso entender Deus. Obrigado porque não tiveram vergonha de mim quando eu fazia birras nos museus, ou me enfiava debaixo da mesa do restaurante porque queria comer um gelado antes da refeição. E porque suportaram que eu, na adolescência, tivesse vergonha de que os meus amigos me vissem convosco na rua. Porque passaram uma boa parte dos fins-de-semana a ver jogos de basquetebol ou de natação para que – quando eu perguntasse “viste-me, mãe, viste-me, pai?” – pudessem responder com sinceridade e orgulho “é claro que te vimos!”. Obrigado pelas lágrimas que choraram e nunca cheguei a saber que choraram. Obrigado porque ralharam comigo quando me portei mal nas lojas, quando bati os pés com teimosia, quando “roubei” batatas fritas antes de o jantar estar servido, quando atirei a roupa suja para um canto do quarto. Obrigado por me terem mandado para a escola quando não me apetecia e inventava desculpas. E por me terem mandado fazer tarefas da casa que fariam bem melhor que eu e muito mais depressa. Obrigado por terem querido conhecer os meus amigos, e por todas as vezes que não me deixaram sair à noite por não saberem muito bem com quem ia e onde ia. Obrigado porque eu cresci e o vosso coração parece ter também crescido. Porque me deram coragem. Porque aprovaram as minhas escolhas, e se mantiveram ao meu lado apesar de ter passado a haver a distância. Porque levantam a cabeça – mesmo sabendo que eu estou muito longe – quando vão na rua e ouvem alguém da multidão chamar: “mãe, pai!”. Obrigado por guardarem como tesouros os desenhos que fiz na escola e que vos ofereci.
Simplesmente, Obrigado! …