sábado, 5 de dezembro de 2009

II SEMANA DE ADVENTO (1 Parte) - E NÓS... ESTAMOS DISPONÍVEIS?

II SEMANA DE ADVENTO (2 Parte) - Foste um bom robot hoje?

Quinze de Outubro de dois mil e quatro, são oito horas e como todos os dias estou no autocarro a caminho da faculdade. Tal como tantas outras manhãs vejo as mesmas pessoas, ouvem-se conversas de “entreter” que não colocam ninguém em causa. Como tantas outras manhãs entro e saio do autocarro nas mesmas paragens e as mesmas pessoas viajam comigo, lá de vez em quando aparece uma nova no entanto, ninguém lhe presta atenção, a não ser que esteja a incomodar, estamos tão preocupados com a nossa vida que não temos tempo para olhar à nossa volta. Esta manhã tudo se preparava para ser mais uma viagem como todas as outras, engano o meu... Ao olhar pela janela, do meu já conhecido autocarro, deparo com um “livro de parede” onde várias inscrições estavam presentes, de entre uma delas uma chamou-me à atenção: “foste um bom robot hoje?”. Vim o resto da viagem a pensar nesta questão, questão que não devia estar só inscrita numa parede mas em letras bem grandes às portas das nossas escolas, shopping’s, trabalhos, etc. O dia ainda agora começou e tenho todo o dia pela frente. Está nas minhas mãos ser um robot ou ser uma pessoa relacional, disposta a quebrar a norma, o método do dia a dia com o objectivo de me relacionar para assim crescer. Ao olhar para “ontem” dou conta que fui um robot exemplar: levantei-me, vim para a faculdade, fiz todos os trabalhos propostos e fui dormir. Ao olhar para “ontem” dou também conta que podia ter sido uma pessoa relacional, não é que não o tenha sido mas bem de certo que podia ter procurado sê-lo mais, em vez de estar à espera das oportunidades podia eu tê-las criado. Logo, ao ir para casa, quero poder dizer um “NÃO” bem grande à questão que o “livro de parede” me coloca. Tenho a certeza absoluta que não vai ser fácil, vou ter que lutar contra muitas pessoas, remar contra a maré. Tenho a consciência absoluta que tudo à minha volta me vai levar para o método robótico. Poucas vão ser as pessoas que como eu querem ser diferentes, que querem tal como eu poder dizer “NÃO” ao “robotismo” que a sociedade de hoje nos coloca. Todos nos fartamos de queixar de como o mundo e a nossa sociedade actual está; no entanto, são poucos os que têm a coragem para olhar a vida de frente, olhos nos olhos e dizer: eu não vou ser mais um robot, vou começar a ser diferente. Volto a dizê-lo: “eu sei que não vai ser fácil” mas também quem quer ter uma vida fácil nunca vai chegar a viver, vai sim existir para o mundo pois tem que se adaptar, moldar e acima de tudo calar mesmo quando todo o seu ser diz o contrário.
Vamos ser olhados com olhares menos apropriados por quem nos rodeia pois vamos ser diferentes e os diferentes raramente são bem vistos, eles têm a capacidade de pôr a descoberto os defeitos e as imperfeições da sociedade onde vivem, não que o façam de propósito mas a sua diferença no modo de viver leva os demais a fazerem uma avaliação do como estão a viver ou a existir... Não quero ser mais chamado de robot; quero sim começar desde já a ser uma pessoa relacional, disposta a viver cada dia com o objectivo de não ser mais uma máquina mas alguém que se preocupa com o outro que está ao seu lado, de me fazer próximo de quem me rodeia. Assim minha vida ficará muito mais enriquecida pois a vida do outro é um meio privilegiado para o meu enriquecimento; não voltarei a ser o mesmo após cada contacto com cada pessoa, serei muito mais rico, não numa riqueza de bolso mas numa riqueza de coração, a minha vida passará a ser o meu “eu” e o “eu” de outras pessoas também. Sou incapaz de falar a todo o mundo mas tenho a possibilidade falar a quem me rodeia, a ti. Não posso querer mudar o mundo todo mas tenho o dever de me mudar a mim.
Quem sabe se de hoje a amanhã mais alguém dá conta que o importante na vida não é ser um robot mas sim uma verdadeira pessoa relacional...
Quem sabe se o “livro de parede” é lido por mais alguém como eu...
Quem sabe se amanhã seremos dois a gritar “NÃO” com a nossa vida ao “robotismo”...
Quem sabe...