sábado, 31 de outubro de 2009

Obrigado


Obrigado porque tiveste na tua vida um lugar para a minha vida, renunciando a tantas coisas boas que poderias ter saboreado. Porque – mais do que isso – fizeste da tua vida um lugar para a minha. E de muitas maneiras morreste para que eu pudesse viver. Porque não eras corajosa, mas tiveste a coragem de embarcar numa aventura que sabias não ter retorno. Porque não fizeste as contas para avaliar se a minha chegada era conveniente: abriste simplesmente os braços quando eu vim. Porque não só me aceitaste como era, como estavas disposta a aceitar-me fosse eu como fosse. Obrigado porque não te deixei dormir e estavas sorridente no dia seguinte. Porque foste muitas vezes trabalhar com manchas de leite na blusa. Porque me acalmaste dizendo “não chores, filho, que a mãe está aqui”, e estar no teu colo era tão seguro como dormir na palma da mão de Deus. Obrigado porque é pensando em ti que posso entender Deus. Obrigado porque não tiveste vergonha de mim quando eu fazia birras nos museus, ou me enfiava debaixo da mesa do restaurante porque queria comer um gelado antes da refeição. E porque suportaste que eu, na adolescência, tivesse vergonha de que os meus amigos me vissem contigo na rua. Obrigado porque fizeste de costureira e aprendeste a fazer bolos. Porque fizeste roupas e máscaras para as festas da escola. Porque passaste uma boa parte dos fins-de-semana a ver jogos de basquet, futebol, provas de natação, actuações de ballet – para quando eu perguntasse “viste-me, mãe, viste-me?” – pudesses responder com sinceridade e orgulho “é claro que te vi!”. Obrigado pelas lágrimas que choraste e nunca cheguei a saber que choraste. Obrigado porque ralhaste comigo quando me portei mal nas lojas, quando bati os pés com teimosia, quando “roubei” batatas fritas antes de o jantar estar servido, quando atirei a roupa suja para um canto do quarto. Obrigado por me teres mandado para a escola quando não me apetecia e inventava desculpas. E por me teres mandado fazer tarefas da casa que tu farias bem melhor e muito mais depressa que eu. Obrigado por teres querido conhecer os meus amigos, e por todas as vezes que não me deixaste sair à noite sem saberes muito bem com quem ia e onde ia. Obrigado porque eu cresci e o teu coração parece ter também crescido. Porque me deste coragem. Porque levantas a cabeça – mesmo sabendo que eu estou muito longe – quando vais na rua e ouves alguém da multidão chamar: “mãe!”. Obrigado por guardares como tesouros os desenhos que fiz para ti na escola quando era o Dia da Mãe. Obrigado…
Paulo Geraldo