terça-feira, 2 de novembro de 2010

IV Sessão GPS



O poder de um sorriso

Nos últimos tempos, o meu meio de transporte “privilegiado” tem sido o autocarro. Todos os que já andaram de autocarro com alguma frequência, têm a experiência de encontrar sempre as mesmas pessoas, nos mesmos dias, à mesma hora. O mesmo se passa comigo. Todos os dias de manhã, encontro o pequeno “João” com a sua mãe. O “João” sai sempre na paragem a seguir à que eu entro. Todos os dias a mesma coisa, à mesma hora, a mesma rotina. Estes encontros já duram desde o início do ano lectivo. Nunca trocamos nenhuma palavra, tal como acontece com tantas outras pessoas que vão no mesmo autocarro. Numa manhã igual a tantas outras, o pequeno “João” sorriu-me… Um sorriso que ainda hoje guardo no coração. Foi um sorriso diferente dos sorrisos “normais”; era um sorriso rasgado, cheio de palavras, um sorriso acompanhado de um brilho nos olhos. Um sorriso que me tocou. A minha primeira reacção foi também sorrir mas nada mais. Estava em reacção. Lembro-me que a atitude do “João” me deixou inquieto. Nos dias seguintes o “João” voltou a sorrir-me da mesma forma. Eu agora já não fui apanhado de surpresa, digamos que estava na expectativa. Passamos a sorrir um para o outro; aquele sorriso estava a ser, para mim, como que a certeza que valia a pena levantar-me todos os dias e viver de tal forma que fosse criador e portador de felicidade. Um sorriso que estava a mudar as minhas manhãs; um sorriso que neste momento já não é só um sorriso mas vem acompanhado de um: “Bom dia. Bem disposto?” Tudo teve início naquele sorriso que me disse mais que mil palavras e que hoje é como que uma necessidade… Tudo teve início num sorriso… Um sorriso que possibilitou uma relação. Um sorriso… Quem me dera que o “João” me tivesse sorrido mais cedo, hoje seria eternamente mais feliz e teria feito outros eternamente mais felizes. Já não posso voltar atrás; o que posso é aprender com isto e aprendi. Aprendi com o “João” a sorrir sem medos, sem vergonha. Aprendi com o “João” o segredo do poder de um sorriso que já não é um segredo, mas uma verdade para ser gritada nos altos dos telhados. (Mt 10, 27). Neste momento tenho receio de um dia me esquecer deste segredo, mas agora também sei que não sou só eu e o “João” que o conhecemos. Tu também o conheces, por isso, peço-te: lembra-me dele quando eu me esquecer. Não é um simples pedido que te estou a fazer; há uma verdade que agora vou pedir-te um favor: fecha os teus olhos, imagina o rosto de uma criança, os seus olhos estão esbugalhados a olhar para ti. No canto dos olhos há um brilho e os seus lábios estão a traçar um sorriso rasgado dirigido especialmente para ti.
Imaginaste?
Então recria-o…