Desculpa pai natal mas já não preciso de ti. Eu descobri qual é o regalo que quero e como o conseguir… Nas palavras daquele adolescente eu descobri a diferença entre dar uma prenda e um presente. Onde é que eu tinha a cabeça para ainda não ter percebido que o oferecer uma prenda ou um presente, parte sempre da pessoa que dá e nunca da pessoa que recebe… Sempre que regalo alguém com uma prenda, fico preso a uma lógica egoísta: “Eu dei, agora tenho que ser retribuído”. Fico preso a esta lógica e caso não seja retribuído, fico muito provavelmente chateado e desapontado. Quando regalo alguém com um presente, faço-me presente junto dele. Pouco me importa se vou ser retribuído ou não; o que importa é que eu me quis fazer presente junto daquele a quem eu acabo de regalar. Eis aqui o grande segredo que muda tudo quando oferecemos a alguém uma prenda ou um presente. Eu não quero ficar preso a esta lógica do “toma lá” e fico à espera do “dá cá”… Quero sim começar a viver do fazer-me presente.
Neste natal, pai natal, já não preciso de ti. Neste natal em que tudo me entra pelos olhos e me chama a ser igual a todos os outros, eu quero ser diferente; eu quero ser como aquele adolescente que se quer fazer presente; quero que o meu natal seja diferente. Quero fazer-me presente neste natal, junto de todos os que amo. Quero neste natal, oferecer como presente a minha vida aos que me rodeiam. Como? Ainda não sei.
Afinal até sei. Tudo o que preciso está dentro de mim: as palavras, os gestos, as expressões, as letras; tenho como me fazer presente; tenho como me fazer presente e com eles viver o mistério do natal. Quero que as pessoas sintam a minha presença neste natal. Não só neste natal. Sempre. Quero com o meu presente, tornar-me presente sempre; quero que sempre que recordem o meu presente me sintam lá, junto deles.
Este é o meu desejo para este natal. Este é o meu próprio presente de natal. Não sei se será o desejo de mais alguém. Talvez seja… É de certeza pelo menos do meu “amigo” do shopping.
Obrigado “amigo”. Sem saberes o meu nome e sem mesmo tu o saberes, deste-me um presente antecipado neste natal. Foste o meu pai natal.
Pai natal, desculpa eu estar a dizer-te estas coisas todas mas quem sabe se podias distribuir esta carta pelas casas onde vais este natal… Uma coisa eu sei; o natal de muitas casas podia ser mais rico, a felicidade podia ser maior. Tenho a certeza que em muitas casas apesar de a árvore ter menos prendas, a casa estaria muito mais cheia, estaria com muitas mais presenças.
Entendes-me, não entendes pai natal? Eu já não preciso de ti pai natal mas há ainda quem precise de encontrar um pai natal na sua vida.
Bom Natal.
Já me esquecia de dizer uma coisa: não passes cá por casa; vai a outra casa que precise mais de ti. Agasalha-te bem. À noite faz frio e tu já não és um jovem.
Bom Natal outra vez.
Luís Sousa
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