MEMORIA[IS] A RESPEITAR...
Há 8 anos
Quinze de Outubro de dois mil e quatro, são oito horas e como todos os dias estou no autocarro a caminho da faculdade. Tal como tantas outras manhãs vejo as mesmas pessoas, ouvem-se conversas de “entreter” que não colocam ninguém em causa. Como tantas outras manhãs entro e saio do autocarro nas mesmas paragens e as mesmas pessoas viajam comigo, lá de vez em quando aparece uma nova no entanto, ninguém lhe presta atenção, a não ser que esteja a incomodar, estamos tão preocupados com a nossa vida que não temos tempo para olhar à nossa volta. Esta manhã tudo se preparava para ser mais uma viagem como todas as outras, engano o meu... Ao olhar pela janela, do meu já conhecido autocarro, deparo com um “livro de parede” onde várias inscrições estavam presentes, de entre uma delas uma chamou-me à atenção: “foste um bom robot hoje?”. Vim o resto da viagem a pensar nesta questão, questão que não devia estar só inscrita numa parede mas em letras bem grandes às portas das nossas escolas, shopping’s, trabalhos, etc. O dia ainda agora começou e tenho todo o dia pela frente. Está nas minhas mãos ser um robot ou ser uma pessoa relacional, disposta a quebrar a norma, o método do dia a dia com o objectivo de me relacionar para assim crescer. Ao olhar para “ontem” dou conta que fui um robot exemplar: levantei-me, vim para a faculdade, fiz todos os trabalhos propostos e fui dormir. Ao olhar para “ontem” dou também conta que podia ter sido uma pessoa relacional, não é que não o tenha sido mas bem de certo que podia ter procurado sê-lo mais, em vez de estar à espera das oportunidades podia eu tê-las criado. Logo, ao ir para casa, quero poder dizer um “NÃO” bem grande à questão que o “livro de parede” me coloca. Tenho a certeza absoluta que não vai ser fácil, vou ter que lutar contra muitas pessoas, remar contra a maré. Tenho a consciência absoluta que tudo à minha volta me vai levar para o método robótico. Poucas vão ser as pessoas que como eu querem ser diferentes, que querem tal como eu poder dizer “NÃO” ao “robotismo” que a sociedade de hoje nos coloca. Todos nos fartamos de queixar de como o mundo e a nossa sociedade actual está; no entanto, são poucos os que têm a coragem para olhar a vida de frente, olhos nos olhos e dizer: eu não vou ser mais um robot, vou começar a ser diferente. Volto a dizê-lo: “eu sei que não vai ser fácil” mas também quem quer ter uma vida fácil nunca vai chegar a viver, vai sim existir para o mundo pois tem que se adaptar, moldar e acima de tudo calar mesmo quando todo o seu ser diz o contrário.